Experiência Literária #5: O Médico e o Monstro — Robert Louis Stevenson

Gabriel Yared
3 min readOct 15, 2020

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Livro “O Médico e o Monstro” de Robert Louis Stevenson.
O Médico e o Monstro, de Robert Louis Steven. Principis, 2019.

Ficha técnica
Autor: Robert Louis Stevenson (1850–1894)
Título original: The Strange Case of Dr. Jakyll and Mr. Hyde
Ano e país de publicação: 1886, Reino Unido.
Edição: Principis (2019)
Tradução: Silvio Antunha
Número de páginas: 94
Tempo de leitura: 14/10 a 15/10/2020
Avaliação: 4/5

O Médico e o Monstro é uma novela gótica escrita pelo escocês Robert Louis Stevenson, considerado um dos principais escritores do gênero de terror e relato de viagens do século XIX. Nascido em 1850, Stevenson já fora um celebrado autor durante a vida, tendo o prazer de assistir às suas obras adaptadas para peças teatrais. Acometido de uma persistente tuberculose, teve a morte prematura aos 44 anos. Além da obra em questão, deixou como marco para a literatura o clássico A Ilha do Tesouro.

A trama de O Médico e o Monstro acompanha a investigação do advogado Gabriel John Utterson sobre os estranhos acontecimentos que envolvem a misteriosa figura do sr. Edward Hyde, único beneficiário da herança no testamento escrito a próprio punho pelo sr. Henry Jekyll, um respeitável médico londrino. Utterson acredita que seu cliente está sob ameaça do detestável sr. Hyde, que se torna conhecido na cidade por atos atrozes de violência e até mesmo assassinato. Conforme o tempo passa, Hyde some e acredita-se que o bom médico encontre sua paz, uma vez livre de tão detestável companhia. No entanto, Utterson percebe em seu amigo uma reclusão cada vez mais misteriosa, fazendo-lhe duvidar das faculdades mentais do médico.

É um livro bem rápido, que dá pra ler em um dia só, não só pela curta duração, mas pelo seu ritmo fluido e envolvente, que faz querer descobrir o mistério que se constrói através da página de pouco a pouco, tendo um final surpreendente. O estilo é direto, apesar de gótico, e conta com narrador onisciente em terceira pessoa que foca na construção do espaço e do ambiente como uma opressão aos personagens e cria uma atmosfera de suspense viciante.

Um dos pontos que achei mais interessantes ao serem desenvolvidos por Stevenson na obra foi o de sugerir, através da observação de Utterson das atividades escusas do sr. Hyde, motivações para que esse antagonista aja de forma tão repreensível. O protagonista procura, a todo momento, justificar até mesmo as hipóteses de ações maléficas de seu amigo médico com o argumento de que qualquer coisa que Hyde seria pior ainda. Mesmo a aparência do antagonista, apesar de não ser anormal, é posta sobre ele como um indicativo de sua maldade, revelando a tradição estética do bom e do belo fundada desde o período medieval e que nos acerca até hoje.

Apesar de surpreendente, tive a sensação que o capítulo final da obra, de caráter elucidativo, quebrou com seu clima de suspense. Torna-se desnecessário, uma vez que as últimas peças do quebra-cabeça já haviam sido encaixadas no capítulo anterior, que constituiria um final em aberto bastante sugestivo e explosivo. Talvez seja questão de preferência minha.

No final, acabamos por descobrir que os piores terrores não são, de forma alguma, sobrenaturais, mas advindos da natureza corruptível que alguns filósofos tendem a apontar como inerentes à natureza humana e que, por mais que procuremos enterrá-las no fundo de nossa existência, ela continua existindo, procurando a menor brecha para expor-se como um verdadeiro monstro.

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Gabriel Yared

Jovem escritor, leitor e resenhista, amante da ficção. Tento apresentar, através de minhas palavras, o que vejo em conjunto ao que simulo em devaneios e sonhos.